Banco Central divulga os 13 casos de uso selecionados para 2ª fase do Drex

Propostas escolhidas vão de tokenização de transações com imóveis e automóveis a otimização do mercado de câmbio

Por Ricardo Bomfim

Por: Noticias Digital – 06//09/2024 – fonte: https://valor.globo.com/

Drex, do Banco Central
Drex, do Banco Central — Foto: Arte/Valor

O Banco Central divulgou os 13 casos de uso selecionados para serem testados na segunda fase do projeto piloto do Drex, iniciativa que busca a construção de uma infraestrutura em tecnologia de registro distribuído (DLT) para “tokenizar” o real e alguns tipos de ativos do sistema financeiro regulado. As instituições financeiras e empresas que participam dos 16 consórcios da iniciativa privada que atuam no desenvolvimento do Drex, além de terem submetido os temas para avaliação do BC, agora serão responsáveis por torná-los realidade.

Bruno Grossi, gerente de tecnologias emergentes do Banco Inter, explica que a instituição que teve seu caso de uso selecionado vai desenvolver a tecnologia para provar sua viabilidade dentro da blockchain permissionada da Hyperledger Besu, a rede DLT escolhida pela autoridade monetária para ser a base do Drex. Para isso, a solução não só precisa se sustentar, como deve ser compatível com o que foi feito até agora no piloto, em especial com as soluções de privacidade adotadas para “esconder” as transações realizadas por cada participante dentro da rede para que não haja violação da lei de sigilo bancário brasileira.

Depois disso, os casos de uso serão disponibilizados para que todos os consórcios os avaliem. “Cada um dos casos de uso será testado por todo mundo. A colaboração sempre será bem-vinda”, diz Grossi. Dos 13 temas selecionados, o Inter participará de três: cessão de recebíveis (atuando junto com o banco ABC), financiamento de operações de comércio internacional — trade finance (sozinho) e piscina de liquidez para negociação de títulos públicos (junto com banco ABC e a corretora de criptomoedas MB – Mercado Bitcoin).

Foram 13 temas selecionados de um total de 42 propostas apresentadas pelos 16 consórcios. São eles: cessão de recebíveis, crédito colateralizado em CDB (Banco do BrasilBradesco e Itaú), crédito colateralizado em títulos públicos (Associação Brasileira de Bancos – ABBC, banco ABC e MB – Mercado Bitcoin), trade finance, otimização do mercado de câmbio (XP-Visa e Nubank), piscina de liquidez para negociação de títulos públicos, transação com CCBs (ABBC), transação com ativos do agronegócio (Tecban, MB e XP-Visa), transação com ativos em redes públicas (MB), transações com automóveis (B3, banco BV e Santander), transação com créditos e descarbonização (Santander), transações com debêntures (B3, BTG e Santander) e transações com imóveis (BB, Caixa e consórcio de cooperativas – SFCoop).

Em nota, o Bradesco afirmou que espera fazer sua primeira operação de empréstimo com a inclusão do Certificado de Depósito Bancário (CDB) como ativo tokenizado na rede do Drex no primeiro semestre de 2025. “O uso dos tokens irá simplificar e agilizar o processo de negociação e liquidação em operações de empréstimo com garantia para clientes pessoas físicas e jurídicas, permitindo que os ativos sejam operacionalizados pelo próprio cliente em produtos como crédito pessoal ou capital de giro”, informou o banco.

Já Rodrigo Mulinari, diretor de tecnologia do BB, destacou que a instituição teve dois casos de uso selecionados para a segunda fase do Drex. “É um reconhecimento de que o banco segue na vanguarda e trabalhando continuamente para oferecer as melhores soluções para os clientes e todos os cidadãos brasileiros”, afirma.

Chama a atenção que o MB, única empresa “criptonativa” liderando um consórcio do Drex, foi quem mais teve sugestões de casos de uso aceitas pelo BC, com quatro propostas diferentes, que irá desenvolver sozinho ou com outras instituições. “Estamos animados com a nossa na segunda fase do Piloto Drex, com diversos cases tendo sido aceitos”, afirma Fabricio Tota, diretor do MB. “A chamada ‘piscina de liquidez para negociação de títulos públicos’ é um dos que nos deixa mais entusiasmados, pois é perfeito para colocar em prática o que já existe em blockchains abertas”, acrescenta.

As “piscinas de liquidez” no mundo dos criptoativos são ambientes nos quais usuários são remunerados por deixarem suas criptomoedas bloqueadas à disposição de alguma aplicação para a realização de “formação de mercado”. Para quem bloqueou a moeda digital, isso significa a possibilidade de rentabilizar o ativo, enquanto a ferramenta que os recebe ganha liquidez para funcionar. “A piscina de liquidez para título público é mais uma questão de abrir novas possibilidades de rentabilizar e gerar algum ganho com o título antes do vencimento”, diz Grossi, do Inter. “Desde o início, o BC deixou claro que escolheu uma DLT baseada compatível com a blockchain Ethereum para explorar casos que já existem dentro do Ethereum”, lembra.

Em junho, o coordenador do Drex no BC, Fabio Araujo, afirmou que esta fase durará de 12 a 14 meses e terá como desafio o gerenciamento dos serviços que serão desenvolvidos dentro da rede. Apesar de ser uma segunda etapa, ela ocorre enquanto os participantes do piloto ainda estão testando as soluções de privacidade necessárias para que as transações do Drex não firam a lei de sigilo bancário.

A autoridade monetária também confirmou que ao longo do primeiro trimestre do ano que vem abrirá chamada para novos consórcios entrarem no projeto do Drex. Estes novos entrantes testarão a implementação de contratos inteligentes na rede do piloto até o fim do primeiro semestre de 2025.